Mocímboa da Praia: O uso inadequado das redes mosquiteiras e o risco da Malária


Por Armando António  

Em Mocímboa da Praia, norte de Cabo delgado, um gesto simples de sobrevivência se transformou num dilema de saúde pública. As redes mosquiteiras, distribuídas em campanhas passadas pelo governo para proteger as famílias contra a malária, uma das principais causas de morte na região, estão agora sendo usadas para outros fins, muito longe da sua função original.

Basta caminhar pelas zonas residenciais ou áreas agrícolas da vila para ver o novo uso dessas redes, vedam hortas, cobrem pequenos viveiros ou cercam currais improvisados para impedir a entrada de porcos, galinhas, cabritos e até macacos.

Em meio à luta diária por segurança alimentar, cada pedaço de recurso é adaptado para resolver o problema mais urgente do momento. E é aí que mora a complexidade.

Não se trata apenas de ignorância ou desrespeito pelas campanhas de saúde. É a expressão visível de um povo que, diante de tantas necessidades não atendidas, precisa escolher entre proteger sua colheita ou seu sono.

Para muitos, perder o que cultivam significa mais fome na mesa. E com os surtos de violência, deslocamentos forçados e a fragilidade constante das instituições locais, a prioridade imediata tornou-se a sobrevivência a qualquer custo, mesmo que isso comprometa a protecção contra a malária.

A malária continua a ser uma ameaça silenciosa. Em Moçambique, de acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, mais de 10 milhões de casos são notificados anualmente, com milhares de mortes, especialmente entre crianças e mulheres grávidas.

 E embora a distribuição de redes tenha salvado muitas vidas, sua eficácia depende do uso correto, no entanto, frustração dos técnicos de saúde é compreensível. Ver o esforço de campanhas inteiras escoar pelos buracos de hortas cercadas é doloroso tanto quanto ver famílias vulneráveis sem acesso a instrumentos adequados para protegerem seus alimentos e meios de sustento.

Porque, no fim, a rede mosquiteira não deve ser um símbolo de escolha forçada entre vida e comida. Deve ser protecção, dignidade e esperança. E isso só será possível quando as respostas governamentais deixarem de ser isoladas e passarem a escutar, verdadeiramente, o clamor de quem vive no terreno.

 

 

 

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