Observação: porque ainda não é possível resgatar Muidumbe

O governador da Província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, apelou recentemente ao governo distrital de Muidumbe para que intensifique o diálogo com os agentes económicos locais, sobretudo os comerciantes que se deslocam até à zona sul para adquirir produtos.

Segundo Tauabo, é essencial que o governo tenha uma relação mais próxima com esses empresários, destacando a necessidade de criar canais contínuos de comunicação e colaboração.

A ideia, segundo ele, é que a administração possa transferir aos comerciantes informações privilegiadas e, gradualmente, facilitar a sua reorganização e reinserção no tecido económico local.

Entretanto, esta posição levanta questões legítimas e complexas. Muitos destes comerciantes perderam tudo durante os ataques armados que devastaram o distrito famílias foram desfeitas, estruturas comerciais destruídas, e a confiança na estabilidade regional profundamente abalada.

Pergunta-se, então: pode-se exigir destes sobreviventes que sustentem financeiramente um governo que, na prática, não conseguiu garantir a sua segurança?

Mais grave ainda é a questão da insegurança contínua na principal via rodoviária usada para o escoamento de produtos. A estrada, fundamental para o abastecimento de Muidumbe, permanece vulnerável, dificultando a logística e expondo comerciantes a riscos reais.

 

A ausência de garantias mínimas de segurança compromete qualquer tentativa de reactivação económica duradoura.

Além disso, há um factor estrutural inevitável: a base de consumo dos comerciantes a população local ainda não regressou em massa às suas aldeias de origem. Sem clientes, como gerar receitas? E, sem receitas, que tipo de sustentabilidade económica se pode construir?

O apelo do governador, embora bem-intencionado, parece desconectado das realidades do terreno. Estaremos perante uma proposta mal concebida ou diante de uma ausência de visão estratégica realista? Em vez de impor obrigações económicas aos que lutam pela sobrevivência, talvez fosse mais prudente e eficaz investir na criação de condições seguras, reconstrução de infra-estruturas básicas e na restauração da confiança da população.

O distrito de Muidumbe não precisa apenas de diálogo precisa de acções concretas, segurança efectiva e uma estratégia sensível ao trauma colectivo vivido por sua população. Só assim será possível pensar numa verdadeira recuperação económica. (Mozanorte)

Post a Comment

0 Comments