Num gesto que
pretendia aproximar as forças de segurança da população, o comandante distrital
da Polícia de Mocímboa da Praia visitou o bairro Nanduadua, na vila-sede, para
ouvir de perto as preocupações das comunidades sobre a crescente insegurança.
Mas o que se esperava ser um encontro de reconciliação e entendimento tornou-se
um grito colectivo de dor, frustração e desconfiança.
Presentes estavam
também representantes das Forças de Defesa de Moçambique (FDM), da Unidade de
Intervenção Rápida (UIR), do SERNIC e da Polícia Municipal um peso
institucional que, aos olhos dos residentes, pouco tem correspondido às
necessidades reais no terreno.
O comandante, em tom
metafórico, disse “Nós somos os jogadores, vocês os adeptos. É o adepto que vê
quando foi penálti ou quando houve falha.” Mas para o povo de Nanduadua, a
metáfora perdeu a força diante das experiências vividas. A cada novo ataque ou
aparição de insurgentes, eles dizem cumprir sua parte: vigiar, avisar, informar.
E, no entanto, a resposta das forças no terreno tem sido sempre a mesma: “Já
vimos há muito tempo.” Mas o tempo, esse inimigo cruel, tem jogado contra a
população. Enquanto a espera por uma resposta continua, casas são queimadas,
crianças são raptadas, vidas são ceifadas.
A sensação de abandono é visível nos rostos e na voz de cada residente. Uma mulher idosa, com as mãos calejadas e os olhos marejados, perguntou com coragem: “Que tipo de polícia temos que não protege o seu povo?” Já não se trata apenas de medo trata-se da dignidade que se perde a cada noite mal dormida, a cada fuga repentina para o mato, a cada corpo sepultado com pressa. A esperança de paz que um dia brilhou com a chegada das forças aliadas parece agora empalidecer diante da lentidão das reacções e da ausência de proteção constante.
A insegurança é mais do que um problema
militar, ela é uma ferida aberta no coração de uma comunidade que deseja apenas
viver com tranquilidade, cultivar seus campos, ver seus filhos crescerem em
paz. O povo de Nanduadua não pede milagres. Pede presença, escuta real,
respostas eficazes. Pede que a segurança deixe de ser uma promessa e se
transforme em realidade tangível, diária, confiável.
Para que Mocímboa da Praia volte a ser símbolo de esperança e reconstrução, é urgente que o diálogo entre população e forças de segurança evolua para acções concretas. Que cada alerta feito por um cidadão seja tratado com a urgência e respeito que merece. Que o investimento em protecção inclua também o fortalecimento da confiança e do vínculo comunitário. Porque a paz não se impõe com armas; ela se constrói com compromisso, presença e justiça. E é isso que o povo está, incansavelmente, a exigir. Armando Antonio
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