Mocímboa da Praia: Médicos Sem Fronteiras alertam para riscos da malária devido a práticas tradicionais em Muengue

Médicos Sem Fronteiras realizaram esta semana uma palestra no bairro Muengue, em Mocímboa da Praia, com o objectivo de sensibilizar a população sobre a malária, uma das principais causas de morte no país, e alertar para os riscos de recorrer primeiramente a curandeiros e práticas espirituais em vez de procurar atendimento médico.

Durante a sessão, os profissionais de saúde destacaram que muitos moradores ainda associam os sintomas da doença como febre alta, dores de cabeça, vómitos e fraqueza a causas espirituais ou feitiços, o que atrasa o diagnóstico e agrava os casos. 

“Muitos acreditam que é obra de um espírito ou vizinho mal-intencionado, e perdem tempo precioso em adivinhações, enquanto a doença progride”, afirmou um dos profissionais durante o encontro.

A acção de sensibilização ocorreu ao ar livre, sob a sombra de uma mangueira, e contou com a presença de dezenas de moradores. O diálogo abordou com respeito o papel das crenças tradicionais, mas reforçou a importância de procurar o hospital como primeira medida ao surgirem os sintomas. 

“A malária tem cura simples e acessível, mas só se for tratada a tempo”, sublinhou um dos membros da equipa.

Outro ponto abordado foi o uso inadequado das redes mosquiteiras. Segundo os profissionais, muitas famílias continuam a utilizá-las para vedar hortas, cobrir animais ou como panos, o que compromete a prevenção da doença. 

A rede mosquiteira tratada com insecticida é considerada uma das formas mais eficazes de protecção contra a picada do mosquito que transmite a malária.

A equipa médica denunciou ainda a actuação de curandeiros que exploram o desespero dos doentes, cobrando por promessas de cura e, por vezes, afastando-os do convívio familiar.

“Há perdas de tempo, de dinheiro e, em muitos casos, de vidas”, alertou um dos profissionais.

No encerramento da sessão, um testemunho emocionou a comunidade. Uma senhora, em lágrimas, relatou ter perdido a neta por acreditar que a doença era resultado de feitiçaria. 

“Hoje entendo que era malária. Se tivesse ido ao hospital, talvez ela estivesse aqui.”

A iniciativa dos Médicos Sem Fronteiras foi recebida com gratidão pela comunidade, que viu na palestra não apenas uma lição de saúde, mas um convite ao equilíbrio entre fé e ciência. 

A organização espera que acções como esta contribuam para reduzir os índices de mortalidade e reforcem a importância do conhecimento como ferramenta de protecção e dignidade. (Armando António)

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