Enquanto explosões e tiros ainda ecoam nas memórias dos sobreviventes, o Governo do Distrito de Quissanga, província de Cabo Delgado, decidiu partir para o contra-ataque não contra os terroristas, mas contra os próprios professores que clamam por segurança.
Em uma conferência de imprensa convocada nesta terça-feira em Pemba, o administrador Sidónio José negou com veemência que haja obrigatoriedade no regresso dos docentes às zonas de risco, apesar dos testemunhos que relatam o contrário.
A resposta do governo distrital, que tenta pintar um quadro de normalização na região ainda assolada pela violência armada, soa mais como uma tentativa desesperada de controlar a narrativa do que de proteger vidas humanas.
Em vez de apresentar garantias concretas de segurança, o Executivo local optou por acusar a classe docente de "propagar ondas de desinformação" uma frase que, na prática, mais parece silenciamento institucional.
Quissanga continua sendo uma das zonas mais vulneráveis aos ataques jihadistas em Cabo Delgado. O próprio governo distrital ainda opera na capital provincial desde março de 2024, data do último ataque de grande escala, o que contradiz qualquer discurso de "normalização" das condições de segurança.
A proposta de regresso voluntário dos professores às suas zonas de origem não se sustenta frente à ausência de um plano de segurança robusto, muito menos diante das ameaças constantes que pairam sobre as comunidades locais.
A tentativa de minimizar a gravidade da situação não apenas banaliza o sofrimento de quem vive o terror no terreno, como também revela um total desalinhamento com a realidade vivida pela população, consideram alguns críticos.
Num momento em que seria esperado um gesto
de empatia e responsabilidade, o Governo de Quissanga prefere blindar a sua
imagem mesmo que isso custe vidas. (Mozanorte)
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