Cemitério avança sobre a via pública e ameaça quotidiano dos moradores em Lichinga

Túmulos estar a ser erguidos perto da estrada, interrompendo o trânsito e transformando quintais em extensão do cemitério

Os munícipes que usam o cemitério do Bairro Changanane, na cidade de Lichinga, província do Niassa, ultrapassaram os limites e passaram a ocupar a faixa pública. Túmulos estão a ser construídos cada vez mais perto da via e até sobre a estrada que antes servia como importante acesso para os moradores da região.

A situação está longe de ser apenas um transtorno pontual. Cada enterro representa o bloqueio total da via, impedindo a passagem de veículos e até de peões. “Quando há cerimónia fúnebre, a estrada é fechada pelas pessoas que acompanham o cortejo. Ninguém passa”, relata um dos utentes da estrada, visivelmente preocupado com a frequência dessas interrupções.

Além da mobilidade urbana comprometida, os moradores da área enfrentam um problema ainda mais íntimo: a invasão dos seus espaços privados. “As pessoas entram nas nossas varandas, nos quintais... parece que os nossos terrenos também fazem parte do cemitério”, denuncia uma moradora, indignada com a ausência de limites definidos e respeitados. 

Essa expansão descontrolada do cemitério está a transformar o espaço residencial em território fúnebre, com impactos directos na saúde mental e emocional da população, especialmente das crianças, que hoje convivem com sepulturas como parte do seu ambiente         quotidiano.

“As crianças jogam bola entre os túmulos”, conta outro morador, sinalizando a naturalização preocupante da presença da morte no dia-a-dia das famílias.

A população local exige uma intervenção urgente da administração municipal. Pedem o encerramento do actual cemitério para novas sepulturas e a identificação de um novo espaço adequado. “O município precisa agir. Já não temos mais sossego. Os túmulos estão no nosso caminho, nas nossas casas”, desabafa uma residente.

Enquanto nenhuma medida é tomada, os túmulos continuam a surgir silenciosos, mas cada vez mais próximos, redefinindo os limites entre o espaço dos vivos e dos mortos. (Jaime Paculeque)

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