No bairro 30 de Junho, em Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado a esperança dos moradores de finalmente verem as suas casas iluminadas transformou-se em frustração, desconfiança e dor.
Tudo começou com uma promessa informal ou, como muitos agora descrevem, um “negócio de oportunidade” disfarçado de progresso. Famílias humildes, cansadas de viver às escuras, foram abordadas com a proposta de contribuir com 15.000 meticais para a compra de postes de energia eléctrica.
A suposta solução foi orquestrada em cumplicidade com um técnico da Electricidade de Moçambique (EDM), alimentando o sonho de acesso à energia e, com ela, a pequenos confortos e segurança tão desejados.
O que parecia ser um avanço social revelou-se, semanas depois, um golpe silencioso. Quando finalmente chegou o momento de ligar os cabos de baixa tensão, descobriu-se que alguns dos postes plantados ilegalmente estavam fora da linha do projecto da EDM, simplesmente não pertenciam ao traçado oficial e, por isso, ficaram de fora da instalação.
Diante da confusão, moradores começaram a questionar a origem dos postes e a razão pela qual os seus investimentos não haviam sido considerados. A resposta foi dolorosa: “Foi um dos vossos colegas que nos vendeu”. A indignação rapidamente cresceu e transformou-se num apelo por justiça.
O técnico implicado devolveu os 15.000 meticais a algumas das vítimas e os postes começaram a ser removidos, um a um, levando embora também os sonhos plantados neles. Mas o estrago já estava feito. Esse episódio, infelizmente, não é um caso isolado. No bairro Ntende, por exemplo, um morador ainda espera pelo reembolso de 30.000 meticais dinheiro que, para muitas famílias, representa anos de sacrifício e trabalho duro.
Mais do que uma questão de infra-estrutura, este é um retrato profundo das falhas no sistema de fiscalização, da corrupção silenciosa que se infiltra nas instituições públicas e, sobretudo, do desespero de uma população que, na ausência de respostas formais, se agarra a qualquer fio de esperança mesmo quando esse fio vem com um custo alto e sem garantias.
A dor maior não é só o
dinheiro perdido. É o sentimento de traição, de impotência diante de um sistema
onde quem deveria proteger e servir passa a explorar. É o silêncio que recai
sobre quem denuncia e a normalização de práticas que minam a confiança colectiva.
(Armando António)
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