Passada uma semana, raparigas raptadas em Chimbanga continuam desaparecidas

Já passou uma semana desde que a madrugada de terror desabou sobre a aldeia Chimbanga, em Mocímboa da Praia. Uma semana desde que homens armados invadiram o pequeno comércio de uma família, destruíram tudo e levaram duas raparigas uma delas adolescente, deslocada de Muidumbe, que procurava refúgio nas férias com familiares. Sete dias depois, não há qualquer sinal do seu paradeiro.

O tempo, em Chimbanga, deixou de ser medido em horas. Conta-se em silêncios, em orações murmuradas, em noites que não terminam e dias que começam com perguntas que ninguém sabe responder. A mãe da adolescente raptada, ela própria sobrevivente de um ataque anterior, já não fala. Desde o rapto, senta-se diante da casa vazia, com o olhar fixo no horizonte, como se à espera de um milagre.

“Não dormimos. Só esperamos”, conta um dos tios, com a voz presa num fio de dor e esperança. “Disseram que iam patrulhar, que iam procurar, mas até agora ninguém voltou com uma resposta.”

A ausência prolongada das raparigas começa a gerar revolta entre os moradores, que se sentem abandonados. As promessas de reforço da segurança e de investigação ativa ainda não se materializaram de forma visível. “A presença militar é esporádica. Quando ouvimos tiros ao longe, não sabemos se é confronto ou mais um rapto. Vivemos como se cada dia fosse o último”, lamenta uma líder comunitária local.

A dor da espera, entretanto, ultrapassa os muros das casas e começa a minar a coesão da aldeia. Famílias inteiras consideram abandonar o local, temendo que a ausência de respostas se torne regra. Os professores relatam aumento do absentismo escolar, sobretudo entre meninas por medo de que possam ser as próximas. “Como ensinar matemática a uma criança que pergunta se a prima foi morta?”, pergunta uma educadora.

Mais do que o desaparecimento de duas jovens, Chimbanga vive o desaparecimento da normalidade, da segurança, do futuro. E a cada dia que passa sem notícias, o risco de que este caso caia no esquecimento cresce como tantos outros ao longo dos últimos anos, em Cabo Delgado.

A comunidade internacional, frequentemente mobilizada por números e relatórios, precisa entender que cada dia de silêncio aprofunda feridas difíceis de curar. Continuar a permitir que jovens sejam sequestradas sem resposta é, também, uma forma de cumplicidade.

Em Chimbanga, a vida segue entre rezas e resistência. Mas o que muitos ali pedem já não é apenas a devolução das raparigas: é o fim da sensação de que podem desaparecer e que ninguém virá procurá-las. (Armando António)

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