Nesta quinta-feira (4), Muidumbe amanheceu inquieto. O que seria mais um dia de luta pela sobrevivência transformou-se em sobressalto e angústia quando a notícia se espalhou: um homem, conhecido na comunidade pela sua habilidade em destilar "nipa" (bebida tradicional) na baixa, havia desaparecido.
Horas depois, a família recebeu uma chamada de voz fria e desconhecida: “Estou nas mãos dos terroristas; para me soltarem exigem 50.000 meticais.” Essas palavras, carregadas de desespero, ecoaram não só na casa da vítima, mas em todo o bairro, lançando uma onda de medo que empurrou alguns moradores a refugiarem-se no mato, enquanto outros interromperam atividades agrícolas e fecharam as portas.
O homem capturado, cujo trabalho rudimentar de destilação é fonte de sustento para a família, agora simboliza a fragilidade de uma comunidade constantemente testada por forças que a transcendem.
O impacto emocional é profundo. Crianças perguntam onde está o vizinho que ontem lhes ofereceu um gole de água de coco, mulheres ponderam se podem continuar a cultivar os campos sem serem surpreendidas, e os homens avaliam se o risco de permanecer na baixa compensa a necessidade de manter algum rendimento.
A exigência dos 50.000 meticais não é apenas um valor arbitrário, é uma ferida aberta no tecido social, onde cada metical pedido representa a ausência de segurança, o colapso da normalidade e a constante lembrança de que a vida pode ser interrompida a qualquer instante. (Armando António)
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